14.4.08

ensaio aberto I

«Agora tenho aqui a tua carta à minha frente e não sei o que hei-de fazer com ela./ Rosa, o “o” e o “a” são petalazinhas, o “s” desenha o caule ajudado pela perna do “r”, e fica rosa rendada, quase uma filigrana como a do meu colar de coração./ Tinha prometido a mim mesma não dizer-te mais nada. Sou tão estúpida, meu deus, tão estúpida./ “Benditas Índias que à Dª Manuela trouxeram a canela, faz-se a felicidade com as mãos dela”, ter-me-ás escrito um poema? Houve umas vezes em que o fizeste, umas vezes não, só uma, que noutra o poema não era teu./ Descalçavas os sapatos antes de entrares, comíamos uma tigela de sopa à noite, sentávamo-nos no sofá em frente à televisão e não dizíamos nada um ao outro./ A outra que levasse o que muito bem quisesse, ainda para mais andavas adoentado e eu já sem paciência para tanto grelhado e arroz branco./ As palavras são sempre moribundas, ora estão aqui a dizer qualquer coisa, ou já não têm sentido nenhum, dá-lhes um fanico num instante, e andamos às vezes tão ralados com o que se disse, vá-se lá compreender isto./ Leite, manteiga, iogurtes, aqueles com o bifidus activus, o colesterol aumentou, as preocupações também, contigo então nem sei o que hei-de fazer, apareces-me assim na cabeça e eu daí é que não sei tirar-te.» Luís Mendes

3 comments:

Rita said...

Quando o carteiro chegou e o meu nome gritou
Com uma carta na mão
Ah! De surpresa, tão rude,
Nem sei como pude chegar ao portão
Lendo o envelope bonito,
O seu sobrescrito eu reconheci
A mesma caligrafia que me disse um dia
“Estou farto de ti”
Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque, na incerteza, eu meditava
Dizia: “será de alegria, será de tristeza?”
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais

Todas as cartas de amor são ridículas,
Não seriam cartas de amor, se não fossem ridículas
Também escrevi, no meu tempo, cartas de amor como as outras, ridículas
As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas
Quem me dera o tempo em que eu escrevia, sem dar por isso, cartas de amor ridículas
Afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas

Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque, na incerteza, eu meditava
Dizia: “será de alegria, será de tristeza?”
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais

Quanto a mim o amor passou
Eu só lhe peço que não faça como gente vulgar
E não me volte a cara quando passa por si
Nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor
Fiquemos um perante o outro
Como dois conhecidos desde a infância
Que se amaram um pouco quando meninos
Embora na vida adulta sigam outras afeições
Conserva-nos, caminho da alma, a memória de seu amor antigo e inútil... (Maria Bethânia - Mensagem)

Anonymous said...

é mt bonito, rita!
está aqui, com um vídeo horroroso, no youtube (fica a voz dela, aconselha-se vivamente a ouvir sem olhar para lá, só ouvir...):
http://www.youtube.com/watch?v=8CcKi4EBrNw

Rita said...

"Eu não vou negar que sou louco por você
Estou maluco pra lhe ver
Eu não vou negar
Eu não vou negar, sem você tudo é saudade
Você traz felicidade
Eu não vou negar
Eu não vou negar, você é meu doce mel, meu pedacinho de Céu
Eu não vou negar
Você é minha doce amada, minha alegria
Meu conto de fadas, minha fantasia
A paz que eu preciso pra sobreviver
Eu sou o seu apaixonado de alma transparente
Um louco alucinado meio inconsequente
Um caso complicado de se entender

É o amor
Que mexe com minha cabeça e me deixa assim
Que faz eu pensar em você e esquecer de mim
Que faz eu esquecer que a vida e feita pra viver
É o amor
Que veio como um tiro certo no meu coração
Que derrubou a base forte da minha paixão
E fez eu entender que a vida é nada sem você

Eu não vou negar, você é meu doce mel, meu pedacinho de céu
Eu não vou negar
Você é minha doce amada, minha alegria
Meu conto de fadas, minha fantasia
A paz que eu preciso pra sobreviver
Eu sou o seu apaixonado de alma transparente
Um louco alucinado meio inconsequente
Um caso complicado de se entender" (Maria Bethânia - é o amor)

Deixo aqui esta letra maravilhosa...

A musica está em
http://www.youtube.com/watch?v=kPobYQX5RmM