23.4.08

ensaio aberto III


«Tentação de abrir todas as cartas e encontrar em alguma delas uma coisa qualquer que me faça feliz./ Telefonar ao canalizador, tenho andado sempre a esquecer-me, o pobre homem tão prestável./ Eu contigo nunca tenho certeza de nada e isto é uma coisa que não me faz muito bem./ Eu cá em baixo encostado ao muro e tu sem olhares para mim, que raio./ Deves achar um bocadinho lamechas, mas eu sou dada a estas coisas, a dizê-las, as coisas devem ser ditas, se é amor é amor./ Gel no cabelo, moderno, sofisticado, pá um gajo como deve ser, como tu havias de gostar./ Não espero uma resposta, nem sequer deverei pôr a carta no correio, logo se vê./ Amo-te, amo-te, amo-te. Vês? Repito e não faz mal nenhum./ Ia por aí numa estrada qualquer até me cansar e ficar só dentro do carro a ver as estrelas./ Inspiro, expiro, suspiro. Vês? Até a respiração fica escrita./ Tenho a certeza de que é uma carta de amor, conheço-as, uma carta de amor pesa de outra maneira./ Hás-de ver se um dia destes não meto conversa.» Luís Mendes

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